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A inovação tem o poder de transformar a sociedade em pouco tempo’, diz Gustavo Junqueira, da KPTL

14/07/2025

Cofundador e atualmente COO da gestora KPTL, Gustavo Junqueira desejava empreender desde a época da graduação em administração. Em 2002, essa inquietação se materializou na criação do Instituto Inovação, iniciativa pioneira no modelo que hoje é chamado de venture builder. A proposta era transformar pesquisas acadêmicas em negócios, criando startups do zero ao lado de cientistas de instituições como Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal de Viçosa (UFV).

“A tese era que o Brasil tem conhecimento de ponta, inclusive científico. Há pesquisadores com mestrado, doutorado, pós-doutorado nas melhores universidades do mundo, e com o apoio de Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e FAPs (Fundações de Amparo à Pesquisa), que desenvolvem conhecimento de ponta, mas têm dificuldade de ir para o mercado. Existe um gap entre ciência e mercado que dificulta a transferência de tecnologia”, relembra.

Entre 2002 e 2007, o grupo fundou cinco empresas de base tecnológica em áreas como nanotecnologia, biotecnologia e voz sobre IP. Mas a escassez de capital semente no Brasil do início dos anos 2000 impôs um limite à escala. Diante desse cenário, o Instituto Inovação passou por uma guinada: deixou de ser uma fábrica de startups para se tornar uma gestora de venture capital.

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A mudança coincidiu com a estruturação do Criatec, primeiro fundo robusto de capital semente do país, criado com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Banco do Nordeste (BNB). A partir daí, o grupo se consolidou no mercado de investimentos e inovação. O Instituto virou a Inseed, que mais tarde se fundiu com a A5 Capital Partners e deu origem à KPTL, em 2019. O conhecimento acumulado nessa jornada ainda resultou em dois novos braços: a consultoria Inventa e a ONG Wylinka, voltada a conectar ciência e empreendedorismo.

Com 61 startups no portfólio, a KPTL tem sede em São Paulo e foco nos setores de agronegócio, saúde, floresta, clima, energia e IoT. Entre os fundos que gerencia, o mais recente é o Amazonia Regenerate Accelerator and Investment Fund, com apoio do BID Lab, laboratório de inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que tem como objetivo fomentar a bioeconomia em sete países de influência da Floresta Amazônica: Brasil, Equador, Bolívia, Peru, Colômbia, Guiana e Suriname. No fim de julho, a KPTL vai realizar o Bioeconomy Amazon Summit 2025, em Manaus (AM), com foco na prospecção de potenciais investidas na região.

Pai de Lucas e Maria Luísa, Junqueira conversou com PEGN sobre as transformações no ecossistema de inovação, a tese da KPTL e até sobre como faz aulas de percussão nas horas vagas para desopilar do dia a dia.

Em que momento você percebeu que a cadeira de investidor seria o próximo passo natural?

Pela dor da ausência de capital no Brasil, nem usávamos a palavra startup. Decidimos ser nós os veículos de capital para empreendedores iguais ou parecidos com a gente. Viemos com uma tese mais mão na massa, de gestão ativa, que acabou se transformando no conceito de smart money — um capital mais proativo. Somos copilotos. Não pegamos na direção, porque ela é do CEO, mas também não somos passageiros. Estamos do lado, com plano de voo, conhecimento e experiência para ajudar nas decisões.

A KPTL já fez mais de 120 investimentos com foco em deeptech, biotech, agtech e govtech — setores menos “sexy” para outras gestoras. É mais difícil encontrar boas iniciativas nesses mercados ou há mais oportunidade justamente por serem menos disputados?

As deeptechs têm um potencial incrível. Elas estão na base da nossa tese desde os tempos do Instituto Inovação. Mas são mais difíceis, sim. Quando analisamos uma empresa com faturamento e métricas como CAC, LTV fica mais fácil. Já um diamante bruto é fácil de confundir com uma pedra. Dá mais trabalho analisar, e nem todo investidor está preparado para isso. Até nossos próprios investidores limitam um pouco nosso apetite por deeptechs por causa do estágio de desenvolvimento. Tem empresa que eu gostaria de investir, mas o fundo não permite. Ainda assim, é a área com maior potencial e chance de retorno muito alto.

Existe também o estigma do pesquisador muito acadêmico, com prazos de 10 a 15 anos para retorno, o que às vezes se confirma. Mas o mundo das startups também tem muita espuma. É difícil separar o joio do trigo, e nas deeptechs não é diferente. Para cada 100 análises, fazemos 1 ou 2 investimentos. Mas elas existem e podem transformar a sociedade, com múltiplos de capital muito maiores.

Como costumam encontrar as startups?

Hoje, com mais de 20 anos de atuação, recebemos uma prospecção passiva muito forte. Somos referência em parques tecnológicos e incubadoras. Mas, sempre que lançamos um fundo novo, buscamos estar presentes nos ecossistemas locais, visitar centros de inovação.

Proativamente, buscamos muito nas fundações de amparo à pesquisa, Finep, recursos de subvenção à inovação, demodays, programas como o BNDES Garagem e redes como a Wylinka. Esses são os espaços onde vivem os empreendedores com conhecimento técnico profundo, não só acadêmico.

A maioria das startups em que investimos conhecemos dois anos antes do aporte. É uma construção de relação. Na primeira conversa, vemos potencial e indicamos o que precisa acontecer antes de investir. A partir disso, mentoramos. Quando a startup alcança aquele degrau, ela retorna mesmo sem estar com a rodada aberta.

Vocês costumam liderar as rodadas. Como a tese do fundo se estrutura nesse sentido?

Buscamos inovação onde ela estiver, sempre no early stage. Para nós, inovação é conhecimento que vira negócio. Investimos em grandes tendências que geram transformação social: envelhecimento da população, aumento dos custos com saúde, ineficiências nas cadeias de valor. Nessas brechas, as startups se movimentam mais rápido do que grandes empresas. Quando a maré muda, as lanchas viram antes dos navios.

E temos um carinho especial por três áreas: saúde, sustentabilidade – que deixou de ser tema de “bicho-grilo” e virou pauta global — e govtechs. A transformação digital do setor público tem um impacto enorme em educação, saneamento e saúde. E temos ainda um fundo exclusivo para agricultura. O Brasil é protagonista mundial e precisa continuar inovando nesse setor.

Por isso, focamos mais em B2B. O B2C exige investimentos altos em marketing e aquisição de clientes. É um jogo de quem tem bolso fundo, e não é o nosso. Nosso modelo busca eficiência de capital. Entramos com uma participação relevante, em 95% das vezes lideramos a rodada, e esperamos uma rodada seguinte antes do exit.


Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios